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"Portugal deve contextualizar passado"


Domingo, 19 de Maio de 2024

O historiador Luís Reis Torgal, especialista em propaganda do Estado Novo, criticou hoje a proposta do Presidente da República de assumir reparações para as ex-colónias, mas defendeu que Portugal deve dar contexto ao seu passado.
“Há coisas pelas quais não faz sentido pedir desculpa”, porque “resultam de um contexto específico”, explicou à agência Lusa o historiador, comentando as recentes declarações do chefe de Estado.
No final de abril, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que Portugal deve liderar o processo de assumir e reparar as consequências do período do colonialismo e sugeriu como exemplo o perdão de dívidas, cooperação e financiamento, que já vêm sendo estabelecidos.
Esse pode ser um caminho, admitiu Reis Torgal que, no entanto, criticou que se peça “desculpa pelo passado”.
Agora, “há aspetos da colonização que são positivos e aspetos da colonização que são obviamente muito negativos, como é o não desenvolvimento das populações, em termos de inculturação”, que as pessoas “perderem um pouco a sua própria cultura” perante o colonizador.
Ora, essa visão sobre o passado, não deve permitir “aproveitamentos da extrema-direita” e dizer que “tudo foi bom [na colonização] ou que a maioria foi boa”, acrescentou.
A falta de investimento nas colónias foi também semelhante a outras zonas do país, recordou Reis Torgal. “Nós não desenvolvemos o interior como também não desenvolvemos as colónias”, observou.
A escravatura foi “um processo violento”, mas Reis Torgal criticou um olhar que só culpe Portugal como pretendem alguns intelectuais brasileiros.
“O Brasil é independente em 1822 e só em 1888 é que acaba com a escravatura. Durante esse período, quem é que é responsável? Nós?”
Para Luís Reis Torgal “a colonização portuguesa não foi exemplar e a descolonização não foi exemplar. Nunca são”, salientou.
Segundo o investigador, a solução deve ser dar “contexto e explicação” ao que se passou.
“As estátuas não devem ser retiradas porque nós hoje não concordamos com o passado, mas sim devem ser explicadas”, exemplificou. (Foto CEIS)




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