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Uso de máscaras deve ser generalizado


Domingo, 05 de Abril de 2020

Há cada vez mais especialistas a defender o uso generalizado de máscaras como forma de protecção contra a infecção pelo novo coronavírus. É o caso de Carlos Robalo Cordeiro, pneumologista, director da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e coordenador do Grupo de Acompanhamento da Covid-19 da Secção Regional da Ordem dos Médicos que, defensor acérrimo do uso de máscaras por toda a população, diz que não compreende como podem, por exemplo, «funcionários nas caixas de supermercado ou pessoas nas filas de supermercado e da farmácia estar sem máscara».

Para o especialista não há dúvidas. O uso das máscaras só não é generalizado e aconselhado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Direcção-Geral da Saúde (DGS) porque «simplesmente, não há máscaras para toda a população». No entanto adverte que a máscara, mesmo não sendo «milagrosa», pode prevenir que as muitas pessoas assintomáticas e que não sabem que são portadoras do vírus, o passem a terceiros, numa simples conversação.

Face à escassez de máscaras, Robalo Cordeiro aplaude quem está a mobilizar-se para produzir máscaras, de uma forma mais artesanal ou mais profissional, não tendo dúvidas que «o importante é que a pessoa proteja outros de serem infectados por alguém que não sabe que o está». Até porque os números são reveladores: «a cada cinco pessoas que transmitem a doença, quatro não sabiam que estavam infectadas». Se tivessem usado máscara, as probabilidades transmissão seriam reduzidas.

O mesmo defende o Conselho de Escolas Médicas Portuguesas que, num documento intitulado “Argumentação e Evidência Científica para o Uso Generalizado de Máscaras pela População Portuguesa”, dá conta de vários artigos científicos internacionais onde o uso de máscaras pela população é totalmente defendido «como medida de controlo da transmissão de infecções respiratórias, reduzindo o risco de contágio, a taxa de ataque e diminuindo o número médio de casos de infectados por cada caso».

O uso generalizado de máscaras pode levar «à diminuição da propagação da doença, não só neste momento de surto da pandemia, mas futuramente na prevenção de futuros surtos», defende o Conselho das Escolas Médicas Portuguesas, que face à escassez de máscaras, propõe, para a população em geral, a realização de máscaras caseiras, de eficácia testada, de fácil acesso e onfecção, baratas e reutilizáveis» e defende «uma campanha de sensibilização sobre a correcta utilização das máscaras, bem como a instrução sobre os materiais utilizados para a sua confecção».


Porque é que a República Checa é dada como exemplo?

República Checa tem sido apontada por vários especialistas, defensores do uso generalizado de máscaras, como um exemplo que Portugal deveria seguir, como já aconteceu com outros países europeus como a Eslovénia, Eslováquia ou a Áustria.

 Ao dia de ontem, Portugal, e de acordo com o relatório da situação epidemiológica no país, contabilizava 11.278 casos positivos por Covid-19 e 295 mortes, enquanto que na República Checa, de acordo com dados oficiais, disponibilizados em www.worldometers.info/coronavirus, o número de infectados era de 4.475 e 62 os mortos, ou seja, quase 3 vezes menos casos positivos e
quase 5 vezes menos óbitos por Covid-19.

Porque será? Fomos tentar perceber.

Portugal e a República Checa têm vários pontos em comum. A começar pela área geográfica e pelo número de habitantes (a rondar 10 milhões). Também no confronto com o novo coronavírus há pontos em comum. Os primeiros casos foram divulgados em datas coincidentes (em Portugal no dia 2 de Março e na República Checa, um dia antes) e a tendência de evolução da curva dos infectados também coincidiu... pelo menos até ambos os países chegarem aos 100 casos positivos.

Nessa altura - dia 12 de Março - a República Checa declarou um mês de estado de emergência e encerrou escolas públicas e privadas. Já Portugal, só o fez no dia 16 e o estado de emergência foi declarado a 18 de Março, quando já contabilizava mais de 640 casos positivos e 2 mortos. Por esta altura, na República Checa, o Governo, que já tinha tomado medidas de restrição fronteiriça, tornado obrigatório o uso de máscaras, de forma generalizada, por toda a população, tendo depois proibido os ajuntamento de mais de duas pessoas, à excepção de elementos do mesmo agregado familiar. 

Portugal também tomou várias medidas restritivas, tendo renovado, apertando as restrições, o estado de emergência. As autoridades de saúde têm sido reticentes ao uso generalizado de máscara, mas ontem a ministra da Saúde anunciou, em entrevista, que a Direcção-Geral da Saúde pediu um parecer sobre esta matéria, tendo sido aconselhada a equacionar a medida. Neste momento, em Portugal, devem usar máscara doentes imunossuprimidos, cuidadores de pessoas com Covid-19, profissionais de saúde, pessoas com doença respiratórias e possíveis infectados. Na República

Checa toda a população se protege, com uma máscara cirúrgica ou artesanal

Neste momento, na República Checa, cada pessoa infectará outra e, em Portugal, segundo declarações de Marta Temido, no período entre 21 de Fevereiro e 16 de Março (com muito menos infectados e óbitos) cada pessoa já infectava quase duas (1,81). É igualmente curioso perceber que, de acordo o worldometers.info, o número de testes realizados por ambos os países era ontem idêntico (Portugal 86.370 e a República Checa 80.304)






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