Como explica a crescente descrença dos cidadãos no sistema político português?Porque depois do 25 de Abril, pouco a pouco, os partidos assumiram todo o poder político, o controlo do Estado e das instituições da sociedade. Além disso, aproveitaram a oportunidade de serem as direcções partidárias a escolher os candidatos a deputados para iniciarem o controlo da Assembleia da República e governamentalizar o regime, que hoje é um regime de Primeiro Ministro. Durante este processo, os partidos políticos foram expurgando dos lugares chave todos aqueles com ideias e propostas diferentes da hierarquia partidária no poder, passaram a limitar a participação política dos militantes e dos cidadãos em geral e a privilegiar no acesso ao poder pessoas por razões de fidelidade e não por mérito. Também, pouco a pouco, os portugueses de melhor qualidade e mérito deixaram de participar politicamente, seja porque o ambiente político se lhes tornou hostil, seja porque não precisam da política para viver. Por fim, a actividade política ficou principalmente reservada aos videirinhos, aos arranjadores de empregos de amigos e familiares, quando não a gente pouco séria. Trata-se de um longo processo de usurpação do poder democrático. Como é evidente, este modelo não democrático, em que os portugueses vêem limitadas as oportunidades de participação política nas decisões e verificam, pela experiência já vivida, a má qualidade dessas decisões, resignam-se à descrença e à abstenção eleitoral.
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